sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Os Mestres da Luz

A Academia Real das Ciências da Suécia anunciou dia 6 os nobelizados na área da Física. São três os veneráveis anciãos que vêem o seu trabalho reconhecido ao mais alto nível, várias décadas depois.
Desta vez, não se celebra a descoberta de uma qualquer obscura partícula sub-atómica, a investigação em torno da teoria da corda bosónica ou esse inegável milagre da física que consiste em esticar até limites impensáveis um material com tão pouca elasticidade como é o orçamento mensal…
Ao contrário, o que resultou dos seus estudos foi algo bem palpável e que hoje utilizamos no dia-a-dia. Eles lançaram, nos anos 60, as bases para as actuais estruturas de telecomunicações e media digital.

Metade do prémio vai para Charles Kao, pioneiro na área da fibra óptica. Esta consiste basicamente na transmissão de informação através de fibra flexível de vidro. Kao percebeu que o vidro poderia ser um meio ideal de propagação de luz em alta frequência. No entanto, debateu-se no início com enormes problemas relativos à pureza do material, questão fulcral no êxito deste meio de transmissão de dados.
Segundo o comité Nobel, nessa altura apenas 1% da luz chegaria à outra ponta de um cabo com 20 metros. Nas fibras modernas, registam-se perdas de 5% após 1º quilómetro.
Hoje a fibra óptica é tecnologia essencial nas redes de telecomunicações, nomeadamente na banda larga. É muito provavelmente graças a ela que este humilde ‘post’ está a chegar até si.

A outra metade dos 1,4 milhões de dólares vai contribuir para a reforma de dois investigadores dos laboratórios Bell, nos EUA, W. Boyle e G. Smith.
Estes senhores aproveitaram a teoria que valeu a Einstein o mesmo prémio Nobel, a de que a luz se converte em sinais eléctricos, e inventaram o CCD, ou, como diria o outro, ‘charge-coupled device’.
Este componente é nem mais do que o sensor que veio substituir o filme nas câmaras fotográficas e outros aparelhos ópticos. Permite ler, num curto espaço de tempo, sinais de um grande número de pontos de imagem (pixels). É o olho electrónico que veio revolucionar por completo o mundo da captação de imagem, que passou a ser feita de modo digital.
Mas não foi só no campo da fotografia e da electrónica de consumo que se operou essa mudança dramática. Foi também um grande salto para a Astronomia: o CCD permite que o telescópio espacial Hubble nos envie imagens de alta resolução. A propósito, instrumentos concebidos para o Hubble com base nesta tecnologia são utilizados em máquinas de biópsia mamária, por exemplo.
Boyle sentiu-se especialmente satisfeito com o facto de a sua (co-)invenção ter contribuído para que as sondas que patrulharam o planeta Marte pudessem transmitir as imagens que nos chegaram com um detalhe impressionante.

Na era da informação e da imagem, nada mais justo que premiar o que tornou possível a internet ou as câmaras digitais.
Os Mestres da Luz entraram na galeria dos Imortais.

imagens Wikipedia

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